As crianças e o sol

As crianças e o sol

Por: Dr. Fernando Ribas

É muito grave a exposição solar intensa

Durante o primeiro ano de vida, a pele das crianças é ainda um prolongamento de pele embrionária.
Até à adolescência há um lento e progressivo processo de desenvolvimento e maturação cutânea, tal como acontece em todo a estrutura corporal.
Nas crianças, a pele é mais fina, mais transparente, com menores defesas e grande sensibilidade a agentes exteriores, traumatismos, calor e , evidentemente, radiação solar.
O sol é uma estrela, fonte de vida e saúde, mas é uma central termonuclear, atómica, que emite radiações que são mais que partículas de energia.
As radiações mais nocivas ( os raios cósmicos, os raios gama, os raios X e os UVC ) são absorvidos na estratosfera, são letais, incompatíveis com a vida mas não atingem a crosta terrestre.
Existem também as radiações visíveis ( as únicas que os olhos captam ), os raios infravermelhos ( que nos dão a sensação de calor ) e as radiações de rádio ( da TV, rádio e telemóveis ). Todas estas são pouco energéticas e praticamente inofensivas.

Mas entre os UVC e a luz visível existem os ultravioletas, bastante energéticos, que são apenas parcialmente filtrados na camada de ozono, (mas não pelas nuvens).
Os UVB, os mais agressivos, atingem a crosta terrestre principalmente a meio do dia e são os principais responsáveis pelos cancros de pele. Os agressivos, surgem durante todo o dia, e contribuem, fundamentalmente, para o envelhecimento cutâneo.
Na pele existe uma estrutura de protecção e defesa contra as radiações solares ( melanócitos, queratinócitos, vasos sanguíneos ) que nas crianças é, contudo, insuficiente.
Estima-se actualmente que, durante toda a vida, cerca de 80% da exposição aos raios UV ocorre até aos 18 anos, Ou seja, precisamente no período em que a pele se encontra menos resistente. Assim, as crianças com maior exposição solar são aquelas que têm mais riscos de insolação, de lesões, de envelhecimento mais acelerado da pele e as que têm maior probabilidade de , mais tarde, sofrerem de um cancro de pele.

Convém, contudo, notar que as crianças de pele clara, ruivas ou loiras, de olhos claros, têm maior riso do que as de pele morena, pois têm menos melanina, menos defesas.
Mas esta sensibilidade não é motivo para “encarcerar” as crianças. A exposição ao ar livre é fundamental e o sol indispensável ao desenvolvimento, Contudo, deve obedecer a regras.
A exposição acentuada, repetida e não protegida aos UV agride a pele e os olhos, deprime o sistema imunológico e envelhece a pele.
Mas é muito mais grave a exposição solar intensa, por curtos períodos de verão, que provoca escaldão. Se a pele fica vermelha, significa que a quantidade de UV é maior que a capacidade de protecção de melanina

Se os cuidados não forem mantidos, é com facilidade que as crianças sofrem escaldões.
A pele fica vermelha, muito quente e dolorosa. Banhos frescos ( não gelados ), aplicação de compressas húmidas, cremes emoliantes calmantes ou mesmo dermocorticoides nas áreas mais atingidas, serão as primeiras medidas.
Deverá tomar anti-inflamatórios mas evitar a aspirina. Se o prurido for intenso, adicione um anti-histaminico oral, mas não tópico.
Devem ser evitados produtos de “primeiros socorros” que contenham benzocaínas, pois podem originar alergias e complicar o quadro.

Se a queimadura for grave, com bolhas deve recorrer a um dermatologista.
É por todas estas razões que devemos evitar que as crianças se exponham ao sol a meio do dia ( entre as 11h e as 16h ). Os dias nublados requerem cuidados particulares, pois os UV não diminuem de intensidade. As crianças não devem permanecer muito tempo expostos ao sol, devem proteger-se com óculos, chapéu, t-shirts e aplicar protector solar com índice elevado ( com filtros físicos adaptados a crianças.
Quando expostos ao sol, as crianças estão sujeitas a um bombardeamento de partículas de energia que provocam na pele um aumento de melanina, o que origina o bronzeado, este é, portanto o resultado de uma prévia agressão cutânea.
Os adultos, por vezes, não têm consciência da fragilidade e sensibilidade cutânea das crianças. Mesmo que a tenham, frequentemente facilitam.
O ideal serias as crianças conviverem ao ar livre durante todo o ano e em curtos períodos do dia.

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